La Paz - Mochilão América do Sul

La Paz é uma capital polêmica – e fria. Sua construção junto a um cânion em meio a Cordilheira dos Andes faz com que as casas e prédios sejam erguidos nas encostas de morros, o que faz com que a cidade pareça uma grande favela. La Paz, que já foi oficialmente dividida entre brancos e índios (separados por um rio), hoje é palco da rica cultura aimará, presente nas ruas, nas feiras e na fisionomia das pessoas.

Chegamos na rodoviária de madrugada e parecia que morreríamos de frio naquele lugar. Se me concentro ainda posso ouvir a voz das mulheres oferecendo passagens aos berros para ORURURURURURUROOOO, COCHABAMBA AMIGAAAAAAAAAAAAAAAA. Parecia um coral desafinado. Ficamos na rodoviária até umas oito horas. Eu e Denise nos separaríamos a partir dali, ela seguiria para o Brasil de ônibus e eu para Copacabana. Depois de comprarmos nossas passagens fomos conhecer a cidade. Nosso primeiro destino foi a Plaza Murilo. Lá encontramos uma igreja e para nos proteger do frio e também por curiosidade resolvemos assistir a uma missa na catedral da cidade. A missa segue o mesmo roteiro das nossas, porém o padre estava muito bravo com a comunidade, que não se oferecia para ler os textos bíblicos. Devo confessar que a paz que senti era tão grande dentro da igreja que quase dormi.
Da igreja fomos até a Plaza onde encontramos milhões de pombos e todo mundo os alimentando. Depois resolvemos procurar alguma feira de artesanato para comprar souvenirs. Andamos muito, muita gente vendendo roupas, depois, de posse de nosso mapa encontramos a área de restaurantes. Optamos por comida mexicana e sinto minha boca arder até hoje de tanta pimenta que tinha em nossa comida. Fiquei impressionada com a loucura que é a cidade e também pela quantidade de Chollas que encontramos na capital. São mulheres, a maioria com certa idade, mas também há jovens, geralmente cheinhas, com a pele curtida pelo sol, enérgicas no trabalho, falando lentamente os complexos idiomas aimará e quéchua,  caminhando apressadas com suas sapatilhas antigas sobre as meias brancas, remexendo as saias rodadas, os braços cobertos por chales de cores sóbrias ou com coloridíssimos desenhos andinos, os longos cabelos negros organizados em tranças feitas com minúcias e, para finalizar o visual, no topo da cabeça usam uma curiosas cartola que impõe respeito e severidade a estas mulheres que exalam uma dignidade nada banal. Elas foram apelidadas de cholas e são, sem pestanejar, as personagens mais marcantes das terras andinas, os homens tornam-se figurantes nas paisagens dos vilarejos ou nas confusas cidades.

A origem da denominação vem de um vocabulário chulo e preconceituoso, mas a designação foi reapropriada e ressignificadas pelos povos indígenas. Assim, com o aumento da resistência indígena na Bolívia e dos movimentos sociais que lutam por seus direitos e pela soberania das culturas tradicionais, estes trajes tradicionais que são uma curiosa mistura de vestimenta hispânica e indígena-andina passaram a ser, cada vez mais,  uma representação do orgulho que estas mulheres sentem por seu modo de ser e de viver. Há relatos, quase lendas, que conferem a origem do uso da cartola a uma super-importação destes adereços no século XIX, o que gerou uma moda.

Os trajes das cholas não são os mesmos em todas as ocasiões. Em ocasiões de desfiles e festas, as roupas são muito mais cintilantes e bordadas, eu não sabia mas teria o prazer de ver uma manifestação dessas mais tarde, na rua próxima a rodoviária.
Depois do almoço passeamos mais um pouco pela cidade e depois retornamos para a estação de ônibus.

Mofamos na rodoviária. Notei que o SBT seria o canal de maior sucesso por lá, pois eles só assistem pegadinhas, como não tínhamos nada para fazer, nem onde ir, ficamos por lá assistindo TV também.
Enquanto esperávamos ouvimos uma banda passando na rua e fui conferir. Era uma homenagem aos mortos de um cemitério que fica ali por perto, o ritmo era uma espécie de Morenada. Achei lindo, cheguei a me emocionar, é muito legal poder assistir a uma manifestação popular assim.



Chegou a hora de me despedir de Denise. Ela mandou eu me divertir e eu acatei a ordem. De ônibus segui para Copacabana. Eu estava muito nervosa, estava sozinha na Bolivia! Ia sozinha para o Peru! Na verdade, não era nervosismo, era medo! Eu repetia quase um mantra “vaidartudocertovaidartudocertovaidartudocertovaidartudocertovaidartudocertovaidartudocerto”... E deu!

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