Personalidades: Rogério Pedro Kretzer


Por Ana Paula Kretzer
Nascimento: 24 junho 1939
Falecimento: 03 maio 2010

Rogério Pedro Kretzer nasceu em 24 de junho de 1939 em Santo Amaro da Imperatriz.
Seu pai , Pedro Nicolau Kretzer, de família rica, era de Angelina e conheceu sua mãe , Irma Rosa Lemhkul , na festa do Divino em Santo Amaro da Imperatriz, festa esta tradicional do município que até os dias de hoje é celebrada. A família de Nicolau não aceitou bem o namoro pois Irma era de família pobre ( empregada doméstica) ; mesmo assim, casaram-se. Já nos primeiros anos de matrimônio mudaram-se para Alfredo Wagner devido a morte do irmão de Nicolau, Quirino Kretzer que   tinha uma mercearia no município . Assim o casal chegou no Barracão com a responsabilidade de assumir o estabelecimento ( a construção existe até hoje – datada 1926) já trazendo consigo o pequeno Rogério com 5 meses de idade. Desde então tudo o que se sabe sobre este ilustre munícipe está diretamente ligado a esta terra.
Rogério foi o filho mais velho de uma família de 6 irmãos ( 3 homens e 3 mulheres). Quando criança chegou a ser  coroinha(crianças que ajudam o padre na celebração da missa) da igreja matriz pois sua mãe sempre foi muito religiosa; tanto que foi ela quem doou o terreno para a construção da nova Igreja Matriz. Era ela também  quem recebia os padres e freiras que vinham ao Barracão em suas missões religiosas pois sua casa era grande e próxima a igreja . Depois de mais velho continuou cristão chegando a fazer parte do primeiro grupo do Carismático ( linha da igreja católica que promove a religião de maneira não convencional).  Aos 17 anos foi para o colégio Diocesano ( internato) em Lages (1956) porém o tempo que por lá ficou não chegou a um ano pois neste mesmo ano seu pai faleceu fazendo com que ele retornasse ao seu lar; já que, era o mais velho.
De volta a sua terra assumiu as “rédeas” da família e dos negócios ( seu pai era uma grande negociante). Iniciou então o namoro  com Marinely.
Eles não eram estranhos uma para o outro já que quando crianças freqüentavam a mesma sala de aula ( em uma turma multisseriada – ela na 1ª série e ele na 4º). O reencontro se deu na festa de janeiro da Igreja Matriz onde  apenas conversaram por algum tempo ( incentivados por uma amiga em comum). O romance mesmo aconteceu quando se viram novamente nas “domingueiras” do Seu Luizinho ( senhor que possuía um estabelecimento no centro da cidade sendo que na parte de cima funcionava um dormitório e na debaixo um restaurante que nos domingos se transformava em um salão com suas “domingueiras” tocadas à gaita pelo próprio Luizinho). No início o pai de Marinely não quis o namoro pois considerava a filha muito jovem -  14 anos – porém ele logo aceitou. Namoraram então por 2 anos até o dia em que  Rogério foi a Florianópolis e voltou de lá com uma corrente e um anel de ouro ,  um tecido de organza  e um pedido de noivado. A então enamorada, aceitou. Quando o casamento estava próximo Marinely engravidou. Ela não sentindo-se digna de uma festa e um vestido de noiva casou-se em uma tarde  de domingo ( 16/08/1959) na igreja matriz com uma única presença : o casal de testemunhas ( tios de Rogério – vale destacar o comentário do tio Ivo: “ Se fosse um casamento sério não me chamavam para se testemunha”).
O jovem casal morou com a família do noivo por 5 meses – foi o tempo que demorou para a casa em que viveram por toda a vida ser concluída, pois quando noivos Rogério já havia iniciado a construção de tal. Até hoje Marinely  reside na casa.

Nesta época a família Kretzer já não tinha mais a mercearia do tio (Quirino) mas sim uma “charqueada” (antigos açougues) em sociedade com Paulo Bunn.
Aos 21 anos decidiu iniciar uma vida política que perdurou até seu falecimento. Foi prefeito de Alfredo Wagner por duas vezes e em um mandato foi vice. Talvez o talento político já tenha herdado de seu avô, Nicolau Antônio Kretzer ,  que foi superintendente municipal de São José (1926 a 1928) e  seu pai que correu para vereador de  Alfredo Wagner mas perdeu quando o lugar ainda era distrito de Bom Retiro.
A primeira eleição a que correu foi em    1962  e  não teve sucesso perdendo a disputa para o  saudoso Duca. Foi nesta derrota que Rogério já mostrou seu “sangue político”: durante a comemoração do partido vencedor colocou  sua esposa e o filho que já tinha em sua “rural” , acendeu a luz interna do carro  e saiu a passear no meio da festa da oposição.
Depois desta eleição perdida o promissor político decidiu seguir a vida sendo caminhoneiro. Nesta profissão ficou até o próximo pleito em  1968 quando correu novamente a prefeito em chapa única apoiado por todas as lideranças da época .  Vitorioso, governou de 1969 a 1972  .  Rogério foi prefeito ainda na gestão de 1977 até 1982  quando governou por 6 anos e foi  vice de Nivaldo Wessler -  1989  a 1992 . Nos anos em que não ocupou nenhum cargo público manteve seus negócios como cerealista ( em sociedade com Raul Juventino da Silva – “Raulzão”) e como pecuarista pois uma de suas grandes paixões sempre foi a criação de gado. Neste inter-tempo também morou no Campo dos Padres ; isso em uma época em que o transporte até lá só se fazia com cargueiros ( cestos colocados no cavalo para transporte) . Enquanto morou no Campo dos Padres ( por 1 ano e meio) a casa que havia construído  foi utilizada por sua irmã (Ivone).
 Os cargos políticos que ocupou sempre foram um meio encontrado para contribuir para o desenvolvimento da cidade .
Nas contribuições públicas cita-se: a construção do hospital, a construção de campos de futebol,  ginásio de esportes, abertura de estradas ( A.W a Leoberto Leal /A.W a Anitápolis), primeira creche do município -  que na época se situava onde hoje é a BR 282, em terras doadas por sua mãe Irma Kretzer, próximo a igreja Matriz ; e por fim a construção  do parque de exposições ( não era o prefeito mas participou ativamente, desde a aquisição de verba até a mão-de-obra utilizada). Foi nesta época , com 48 anos de idade  que teve um infarto que quase o matou. A mobilização no município foi enorme, muitas orações foram feitos por todos os alfredenses que eram amigos e conheciam Rogério.  Ainda em Florianópolis no hospital lhe perguntaram se ele queria ser transferido a São Paulo, já que a maioria dos médicos consideravam-no morto , ele respondeu: “ Enquanto há vida, há esperança”. Realmente... a esperança lhe deu uma nova chance de viver. Depois de um tempo internado em São Paulo -  fez uma cirurgia de coração – voltou a sua amada terra.
Depois desta data,  todos os anos em abril ( mês em que fez a cirurgia) Rogério comemorava com sua família seu segundo aniversário, como ele mesmo dizia.
No final de sua vida política trabalhou ainda em Florianópolis como assessor de gabinete de deputado.
No ano de 1988 quando não ocupava nenhum cargo público , incentivado pela esposa preocupada com o futuro dos filhos formados e sem emprego, construiu a Churrascaria e Lanchonete Kretzer. Quando o filho mais velho Carlos Alberto (Beto) se casou assumiu a Churrascaria sendo que a lanchonete ficou sob responsabilidade do filho que na época ainda era solteiro Cláudio Luiz (Chico) . Este quando se casou continuou com o negócio. Os dois estabelecimentos , hoje, são tradicionais entre os moradores da cidade e entre os viajantes da BR 282 , já que estão localizados à beira desta BR no Km  104 - Trevo.           
Rogério era um homem que tinha como principais qualidades a caridade e a simpatia. Em um de seus mandatos colocou todos os operários braçais da prefeitura  em uma caçamba  e os levou para passar um fim de semana na praia da Pinheira ( Palhoça ), onde tinha casa. Queria proporcionar-lhes conhecer o mar... conseguiu!
Era ecêntrico e divertido.... certa vez no dia das mães sua esposa foi à missa e quando retornou ele estava vestido com suas roupas ( de mulher) cuidando dos filhos.
Apesar de não ter cursado uma faculdade tinha vasto conhecimento...era um leitor insaciável de jornais e revistas . Era também  enérgico na educação dos filhos, para ele não tinha uma segunda chance, se um deles fizesse algo que considerava errado ele não o poupava , seu julgamento e castigo eram igualmente severos.
Era um líder nato, tinha carisma , um anfitrião como poucos ; quando prefeito chegava a receber os cidadãos alfredenses em seu quarto , quando ainda estava na cama de manhã. Seu  maior ensinamento àqueles que com ele conviveram talvez tenha sido este: simplicidade em lidar com as pessoas e o prazer de cultivar antigas e novas amizades.
Tinha com os netos uma relação inestimável de companheirismo. Ele era louco por eles e eles loucos pelo avô. Certa vez em seu terreno nas Demoras comentava com um dos netos que quando os pés de pêssego floresciam era sinal de que algum idoso iria morrer ; a resposta foi imediata: "Então vô , vamos podar todos os pés de pêssego que temos aqui!"disse ele com medo de que seu grande amigo morresse. Este é um dos vários episódios que poderiam ser citados pra provar o tamanho deste amor ; entre ambos , é claro.
Enquanto vivo, Rogério  era visto com respeito pela maioria dos novos políticos da cidade, ainda tinha muito prestígio. Muitos alfredenses o tinham como líder público e isso, de certa forma, influenciou as últimas eleições de que participou ( como coadjuvante, é claro!).
Em agosto de2009 Rogério comemorou com seus 7 filhos e  11 netos os  50 anos de casamento com Marinely , vindo a falecer em maio de 2010, 9 meses depois desta celebração.
No passado a esperança lhe deu uma nova vida... ele agarrou esta chance com todo seu vigor e viveu para ver sua família crescer e sua terra progredir.
Morreu na  localidade de Demoras, no município que ajudou a desenvolver,  participando de uma audiência pública para a melhora da estrada local. Neste lugar tinha um terreno por qual era apaixonado, onde passava  a maior parte  de seu tempo nos últimos anos.
Faleceu, no lugar onde amava fazendo o que mais lhe dava prazer: política.



Informações transmitidas por:
Marinely Kretzer
Carlos Alberto Kretzer
Clóvis Ôge Kretzer


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4 Comentários

  1. Manuela A. Kretzer Muniz17 de junho de 2013 às 14:50

    Parabéns aos instituidores e colaboradores deste projeto... É muito bom saber um pouco mais da história de grandes personalidades que fizeram parte da "história de Alfredo Wagner" e particularmente neste caso "a minha história".

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  2. Tinha com os netos uma relação inestimável de companheirismo. Ele era louco por eles e eles loucos pelo avô. Certa vez em seu terreno nas Demoras comentava com um dos netos que quando os pés de pêssego floresciam era sinal de que algum idoso iria morrer ; a resposta foi imediata: "Então vô , vamos podar todos os pés de pêssego que temos aqui!"disse ele com medo de que seu grande amigo morresse. Este é um dos vários episódios que poderiam ser citados pra provar o tamanho deste amor ; entre ambos , é claro!

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  3. Foi um homem marcante em nossa cidade. Na minha modesta concepção, e, em observância a depoimentos que recolhi ao longo de meus 20 anos como historiador amador (faço pesquisas históricas através de fontes verbais e escritas desde os 11 anos de idade), Rogério Pedro Kretzer foi, de longe, o maior estrategista político que Alfredo Wagner já teve e, diga-se de passagem, bem sucedido. Das 11 eleições municipais das quais participou, amargou ínfimas 3 derrotas (1 como candidato, 2 como cabo eleitoral), contra significativas 8 vitórias (83%), o que o credenciou a ser um dos candidatos ou cabos eleitorais mais proeminentes que pelas plagas alfredenses já pisaram. Conforme o lado que ele apoiasse, já se sabia mais ou menos quem venceria. Meu pai participou de seis eleições como seu correligionário, sucedeu-o e o antecedeu como prefeito, e o define como um "homem muito esperto, que via longe, que não'dava ponto sem nó'; um líder carísmático, alegre, bem humorado, criativo inimitável nas brincadeiras". Em tropeadas, se dava ao trabalho de, em momentos em que o cavaleiro saía e deixava o animal arreado, assentar pedras sob os pelegos e as amarrar com a sobrecincha , causando risos. Era, indubitavelmente, uma figura divertida e cômica. Há dezenas de outras gozações perpetradas por ele, todas muito autênticas. Elas deveriam ser emuladas e, quem sabe um dia, compor um livro sobre o folclore e a cultura locais, pois ser alfredense é saber ser sacana (na semântica positiva desse verbete, é claro), é saber caçoar, fazer escárnio, rir do outro, de si e, muitas vezes, de sua própria desventura.

    Eu participei ao lado dele de uma eleição, e o seu apoio foi crucial para a nossa vitória (Wanderley/Juliano, em 2004). Nas reuniões com a cúpula, das quais participava um seletíssimo grupo, ele sempre era presença indispensável. O que ele dizia, podia-se escrever. E tinha um jeito muito simples e natural de liderar, de conduzir. Talvez sua orfandade precoce e primogenitura tenham contribuído para a consolidação deste traço inocultável de sua personalidade: a liderança.

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  4. Outro aspecto interessante do Seu Rogério que, a meu ver, o tornou "o mais folclórico dos políticos" era a criatividade que, aliada ao seu saber fazer política (deve haver uma palavra específica pra definir isso, mas ela me faltou agora), o tornavam inimitáveis. Comemorava as vitórias com estardalhaço e, consoante o texto acima, não se abalava ante as derrotas; ao contrário, tinha jogo de cintura e maturidade política de sobra para lidar com elas, sabendo brincar e rir do malfadado resultado.
    Após a eleição de 1977, ele amarrou um pelego atrás de um corcel que tinha, e o arrastou pela praça, erguendo aquele poeirão.

    Faltou abordar também (outra hora o faço) a sua simplicidade. Se o Barracão e, posteriormente, Alfredo Wagner, fosse uma corte, os Kretzer (desde a fúlgida era do eminente Quirino Kretzer) integrariam o seleto rol das famílias nobres. Eram tradicionais, intrinsecamente ligados à religião e à vida social, abastados (Quirino e, a posteriori, seu irmão Pedro moravam naquela que, à sua época, era a mais luxuosa casa da vila; tinham enormes fazendas e vultosas quantidades de gado); a matriarca da família, após a morte de Pedro, era dotada de retidão moral e caráter ilibados, bondade e generosidade ímpares, espírito de comunidade exemplar... enfim, uma pessoa onde é difícil de serem detectadas máculas. Minha avó materna vizinhou-se a ela durante dez anos, e cultivou com ela sólida amizade, sendo que lembro-me dela própria enaltecendo as virtudes da amiga. Contudo, Rogério (seus filhos também o são, principalmente meu amigo Clóvis) sempre foi extremamente humilde, desprovido de vaidade e de luxo. Ao fim da vida, andava com uma caminhonete velha, despojado, despretensioso... Um dia, fui ajudar a quebrar milho em sua fazenda. Ele mesmo preparou o café pra mim e pros camaradas, com uma deliciosa omelete (comi tanto que, depois, fiquei com vergonha dele - tamanha foi minha apreciação pela comida). Seus hábitos eram simples, espartanos. Era praticamente abstêmio, ponderado, mantenedor de perene e plena sanidade. Lembro-me de uma "Alfredfest", no Maia, em outubro de 2005. A festa estava divertidíssima, o calor e a presença de tantos velhos conhecidos seus o incitaram a tomar , digamos, dois copos além do que costumava. Ele, num assomo de autocontrole, me falou: "Juliano, acreditas que essa bebida que tomei (não me lembro qual era, mas era destilada: uísque? O Beto saberia?) está me deixando tonto? Sou obrigado a ir embora!". Achei uma atitude incrível. Oxalá a conseguíssemos seguir! Além dele, Alfredo Wagner teve três outros prefeitos parcial ou totalmente abstêmios: Alfredo Wagner Júnior, Norberto Wagner e Nivaldo Wessler.
    Finalizando este meu já texto (tenho o defeito de, quando começar a escrever, não parar mais - quando começo a ler, mantenho a mesma avidez...), explicito os comentários tecidos acerca do Estrategista no último sufrágio: "Se ele estivesse vivo, nós (Beto e Daniel) teríamos vencido. Perdoem-me a inferência, mas aquiesci a esses comentários. Enfim, as eleições sem o Estrategista não foram as mesmas, nem nunca mais serão.

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