2015 - Punta Del Este

No dia 25 de janeiro, eu e alguns alunos do mestrado da UDE participamos do colóquio "Cultura, Naturaleza y Tecnologías. Ensamblados sociales en horizontes de futuro" e da apresentação do livro "Educación en clave para el desarrollo", ministrado pelas professoras Lidia Barboza Norbis y Lydia Garrido.
O colóquio incluía um roteiro muito interessante, que nos fez aprender de uma maneira inovadora e ainda conhecer um pouco mais sobre as belezas e peculiaridades do Uruguay.
Através do itinerário, a proposta era descobrir o território e sua dinâmica de mudança.
Conhecemos um pouco da história de Maldonado, um importante departamento do Uruguay. Em Maldonado venta muito e por conta disso um sistema eólico vem sendo construído e daqui a alguns anos o país será eletricamente sustentável  - usando apenas a força do vento. Achei isso genial.
O clima também favorece o plantio de uvas e de oliveiras e nós fomos conhecer, mas antes fizemos uma parada em um povoado que vive como se estivesse em outro tempo.
O Pueblo Edén é um exemplo de Slow Town. O lugar é um paraíso para quem gosta de tranquilidade e passou a ser ainda mais conhecido com a chegada do famoso cabeleireiro argentino Roberto Giordano, pois com sua chegada o valor de cada terreno mudou muito e atraiu também a vinda de muitos estrangeiros para o povoado, mas apesar disso a forma de se viver na pequena vila em nada se alterou, prevalecendo a paz e a tranquilidade. Lá encontramos algumas placas como "Este es un pueblo tranquilo", "Andá despacio, no vueles", "Aquí nos tomamos la vida con mucha calma. Disfrute del lugar", que retratam bem a energia do lugar.
Seguimos viagem.
Concentrados na Serra dos Caracóis e na Serra de Carapé, na província de Maldonado, os solos férteis e os ventos oceânicos do leste do Uruguai dão condições para a produção artesanal de azeite extravirgem de altíssima qualidade. Além de exportar o azeite, produtores abrem suas porteiras – sim lembramos da Valéria - para receber turistas interessados na degustação.

O surgimento da rota do azeite, chamado de Ruta del Olivo, uruguaio é recente. As primeiras oliveiras foram plantadas na região há menos de 10 anos. Como o pé leva de três a seis anos para crescer e dar frutos suficientes para a produção do azeite, a maioria das fazendas está em sua segunda ou terceira colheita. E o turismo ainda é insipiente. Por não terem boa infraestrutura para receber visitantes, as degustações ocorrem de maneira bastante informal.
Uma das principais produtoras de azeite extravirgem da rota é a fazenda Finca Babieca e foi ela que visitamos. Comandada pela engenheira química Isabel Mazzicchelli - que ganhou minha simpatia, pois se parecia com minha avó - diretora do Instituto de Gastronomia do Uruguai, a empresa foi criada por quatro amigos espanhóis de Bilbao que viram nas terras uruguaias uma oportunidade de investimento. Em 2005, quando compraram a fazenda, o país passava por uma crise econômica que derrubou o preço das terras. Agora, exportam para os Estados Unidos, Europa e miram o mercado brasileiro.
Na Finca Babieca conhecemos a plantação – teve gente até comendo azeitona do pé – como é feita a colheita e todas as etapas de produção do azeite. Foi muito interessante conhecer todas as etapas de produção e no final tivemos até uma degustação de azeite – me antecipei e não esquentei o azeite na mão, para deixa-lo mais suave e por conta disso até hoje sinto o seu gosto em minha boca.
Depois visitamos Bodega y Viñedos Alto de la Ballena.
Em 1998, o casal Paula Pivel e Alvaro Lorenzo, decidiram criar uma pequena vinícola. Sem muita experiência, além de serem consumidores de bons vinhos, eles começaram uma busca por terras adequadas para o plantio e por mão de obra especializada para a produção de vinhos de alta qualidade.
Em 2000, eles adquiriram quase vinte hectares na Sierra de la Ballena, a poucos quilômetros do mar e Punta del Este. A primeira plantação de vinhas foi feita na Primavera de 2001, vinhas compostas por compostas de Merlot, Tannat, Cabernet Franc, Syrah e Viognier.
A primeira colheita ocorreu em 2005 e os primeiros vinhos foram apresentados ao mercado em 2007.
Hoje, os vinhos do Alto de la Ballena são vendidos em lojas especializadas, espaços gourmet e os melhores restaurantes do Uruguai, principalmente em Montevidéu e Punta del Este – inclusive encontramos os vinhos em uma loja de bebida pertinho da UDE. Eles também estão presentes no México, Brasil, Suécia e em outros países da europa.
Uma das coisas que me chamou a atenção foi quando Paula nos falou do “Los Caminos del Vino de de la Asociación de Turismo Enológico”, uma associação de pequenos produtores de vinhos que se encontram e compartilham conhecimentos e recursos, visitando uns aos outros e prestando auditorias aos colegas. Achei fantástica essa ideia de aprendizado e compartilhamento de conhecimento.

Almoçamos na Escuela de Alta Gastronomia "Dr. Pedro Figari". Fica na praia Manza e é um lugar lindo, com uma comida deliciosa de frente para o mar. Após o almoço eu e Vanessa não resistimos e fomos até a praia, que convidava a um mergulho, mas não tínhamos mais tempo, pois tínhamos que “desbravar” Punta.
Charme e elegância definem Punta del Este. Apesar do luxo e badalação, a cidade não perde o jeito hospitaleiro de tratar o turista e conta com uma interessante história e arquitetura.
A vila onde hoje se situa Punta foi fundada 1829 e teve seu potencial turístico explorado já no início do século XX – inicialmente o balneário atraía famílias vindas de Montevidéu e da Argentina. Já na década de 30 Punta contava com inúmeros restaurantes e casas noturnas e, apenas algumas décadas mais tarde, juntamente com alguns dos mais famosos destinos europeus, entraria no ranking de balneários mais luxuosos do mundo. Por esse motivo, todos os anos Jet-setteres de todo o mundo buscam o destino dispostos a muito luxo e requinte.
Se você busca algo além de badalações, praias e cassinos, Punta também é o seu destino! O balneário também é conhecido pelas belezas naturais. Pode-se investir em caminhadas pela orla e até mesmo em um passeio pela Isla de los Lobos, onde vivem milhares de lobos-marinhos e leões-marinhos ou ainda conhecer o farol de 59m de altura. A paisagem é incrível, uma exuberância natural.
A soma de todos esses atrativos contribuiu para que multimilionários de todo o mundo construíssem mansões em Punta, que podem ser vistas em diversos bairros residenciais como o Bervelly Hills, que evidenciam o alto poder aquisitivo de seus moradores. São casas imensas, com nomes próprios e lindos gramados que fazem com que você se sinta em outro continente.
Conhecemos também o Puerto de Punta, muito bonito e cheio de ostentação. Lá um lobo marinho fez a alegria de parte do grupo, ao sair da água e ficar bem ao lado delas.
Fizemos uma parada no “Monumento al Ahogado” que é uma escultura de cinco dedos parcialmente enterrados na areia, popularmente conhecido como Monumento Los Dedos ou La Mano.
Como todos sabem a escultura é famosa e tornou-se um símbolo de Punta del Este, desde a sua conclusão em fevereiro de 1982, e, por sua vez tornou-se um dos marcos históricos mais famosos do Uruguai.
A escultura foi feita pelo artista chileno Mario Irarrázabal durante o verão de 1982, enquanto ele participava do primeiro Encontro Anual Internacional de Escultura Moderna ao Ar Livre, em Punta del Este. Foi nesse encontro que ele e mais oito artistas criaram diversas esculturas na avenida a beira da praia Brava, que se tornou um ateliê ao ar livre, onde artistas de diferentes países trabalharam por mais de um mês. Esse local é conhecido atualmente do Paseo de las Americas e lá você pode ver as obras destes nove escultores. As esculturas são: Fuente de Agua, Ofrenda de paz...mensaje de vida, Cinco Columnas Negras y una Colorada, Ala de Gaviota, Metal Pintado de RojoLa U,  El Vacío esta última feita por um brasileiro. Uma convidada da professora nos contou tudo sobre elas e foi muito interessante saber mais essa peculiaridade de Punta, que muitas vezes passa despercebida aos nossos olhos, afinal, em minha primeira visita a Punta eu não fazia ideia do porque aquelas esculturas, não sabia que tinha um significado.
Próxima parada Museo Ralli – no caminho aproveitamos para ver um pouco da exuberância das mansões do bairro Bervelly Hills - que é uma entidade privada, sem fins lucrativos, com o objetivo principal de promover a consciência do trabalho de artistas latino-americanos contemporâneos fora das suas fronteiras nacionais. Fundada pelo Sr. Harry Recanati, um banqueiro aposentado e colecionador, e sua esposa, Dr. Martine Recanati.
Depois de vender seus bancos na década de 80, ele decidiu seguir um importante trabalho cultural, criando cinco museus em diversos países, usando sua vasta herança para esta finalidade. Museus Ralli estão estrategicamente posicionados para acolher uma das mais importantes coleções de obras latino-americanos no mundo. O primeiro Museu Ralli foi fundada em Punta del Este (Uruguai), em 1988. O segundo em Santiago (Chile) em 1992, uma terceira em Cesaréia (Israel) em 1993, um quarto se estabeleceu em Marbella (Espanha), em 2000. Além disso, um quinto museu de arte clássica (séculos XVI a XVIII) foi inaugurado em Caesarea, Israel, em 2007. Quem me conhece sabe que me sinto uma alienígena visitando museus de arte, pois não me sinto capaz de interpretar ou achar a beleza em algumas obras, porém eu adorei o acervo do Ralli, achei leve e ao mesmo tempo instigante.
Foi no Museu que a professora Lídia fez o lançamento de seu livro “Educación en clave para el desarrollo” e nos entregou o certificado internacional do colóquio.
Depois do Museu, fomos até la barra e lá comemos uma medialua calientita, que segundo as professoras é uma das comidas típicas dos moradores do lugar depois de “bailarem” a noite inteira.
O último destino do passeio foi para mim uma experiência única e quase inenarrável. Casa Pueblo, de Carlos Paez Villaró. Um espetáculo.
Bom, eu não falarei da Casa Pueblo, pois já comentei aqui no meu blog que é um dos lugares mais lindos dos quais já pisei, mas terei que declarar todo meu encanto pela “la Ceremonia del Sol”. Lindo demais, me levou ás lágrimas, não só eu, muitas das pessoas que em silêncio ouviam o poema de Villaró, declamado com sua voz. A princípio tentei segurar, mas ao ouvir a frase: “Tchau sol ...! Obrigado por provocar uma lágrima, ao pensar que também iluminou a vida de nossos avós, nossos pais e entes queridos e de todos os que não estão mais juntos a nós, mas que te seguem e de você desfrutam de outra altura” e ver as lágrimas rolando dos olhos de uma senhora que estava ao meu lado não deu mais para segurar, me desmanchei em lágrimas, de saudade, dos que se foram e dos que estavam longe de mim. Se quiserem assistam ao vídeo e leiam o poema que é lindo demais.
Bom, o passeio foi fechado com chave de ouro e o domingo de muito conhecimento terminou assim.



Tradução do Poema
“Olá Sol ...!
Mais uma vez você vem para visitar sem aviso prévio. Mais uma vez em sua longa caminhada desde o início da vida.
Olá Sol ...!
Com a barriga cheia de ouro fervendo para distribuir entre as moradias e quintas, capelas camponesas, vales, florestas, rios e aldeias esquecidas.
Olá Sol ... ! Todo mundo sabe que pertence a todos, mas prefere dar seu calor aos mais necessitados, aqueles que precisam de sua luz para iluminar a sua casa de folhas, os que de você recebem energia para enfrentar o trabalho, pedindo a Deus para nunca perdê-la, para enriquecer seus plantios, e conseguir as suas colheitas.
É que você, Sol,, é o pão de ouro da mesa dos pobres.
Da minha varanda eu vejo você vir todos os dias como um anel de fogo de rolamento através de anos, pontual, essencial, incentivando minha filosofia desde o dia em que comecei a levantar a Casapueblo e coloquei a primeira pedra e o meu primeiro tijolo.
Eu me lembro que foi um dia de inflamada tempestade, o mar tinha substituído a cor azul por um cinza empavonado, no horizonte um veleiro ancorado afiava atento suas velas para escapar da tempestade, o céu estava cheio dos gritos dos corvos em voo, vi como a rajada de vento agitava toda a serra, incomodando tanto à doninha quanto a um coelho.
Mas de repente um anúncio sobrenatural perfurou o céu e você apareceu. Era um sol nítido e redondo, perfeito e delineado posto sobre o cenário de minha iniciação com a força sagrada de um vitral de igreja!
Os mesmos braços de ouro que ao amanhecer iluminam o céu, que se estendem sobre todos os lados, aqueciam as montanhas, ou apontando para baixo iluminavam o mar.
A partir daquele momento eu senti que Deus habita em vós, para que a vossa fé é por meio de seus raios transmitida a todos os lugares por onde transitava.
Sol ... Olá! Como eu gostaria de ter compartilhado sua longa jornada presenteado os outros com luz, porque o teu toque acariciou a vida de mil povos, compartilhando suas alegrias e tristezas, conheceu a guerra e a paz, impulsionou a oração e o trabalho, acompanhou a liberdade e fez durar menos a prisão da escuridão.
Ao seu comando sol, os lagartos dormem, os girassóis acordam e os galos cantam. Ronronam os gatos vadios, uivam os cães e outros saem de suas cavernas.
Ao seu comando há o suor na testa dos trabalhadores, e no corpo das mulheres que cobertas levam cântaros de água para a favela. Com toques de seu coração comove o mar, da música ao plantio, a usina e ao mercado.
Ao seu comando correm em estampido búfalos e antílopes, se desperta o leão, se surpreende a girafa, se desliza a serpente e voa a borboleta. Ao seu comando canta a cotovia, saiu-se do pântano, acordou o morcego e se mudou o albatroz.
Sol ... Olá! Obrigado por ter vindo alegrar minha vida como artista. Porque você me fez menos solitária a minha solidão. É que eu estou acostumado a sua companhia e se não tenho você, te busco onde quer que estejas!
É por isso que te reencontrei na Polinésia, quando você foi coroado rei das ilhas de pérola e recifes de coral, ou também na África, quando deu um impulso à suas revoluções libertárias e se refletia no espelho de seus escudos tribais para injetar coragem.
Eu estou olhando e vejo que você não mudou, é sol que reverenciavam os Astecas, o mesmo que pintei em minha peregrinação pela América, o mesmo que envolveu a Amazônia misteriosa e secreta, o que me iluminou o caminho sagrado de Machu Picchu no Peru, e nos vales da Patagônia ou territórios dos Sioux e o Comanche.
O mesmo sol que me levou a Bornéu, Sumatra, Bali, a Ilhais musicais ou as areias escaldantes do Sahara. A diferença dos relâmpagos que apenas projetam na noite chicotes de luz do sei reinado planetário, teus raios permanecem ativos. Algumas vezes a travessuras de umas nuvens escondem a sua glória, mas quando isso acontece, nós sabemos que você está lá, jogando oculto.
Outras vezes, porém, te vemos sorrir quando as gaivotas te usam de papel para escrever as frases em seu voo.
Obrigado Sol, por invadir a intimidade de meu entardecer e mergulhar em minhas águas. Agora será a luz dos peixes e de seu mundo secreto debaixo d'água. Também os fantasmas que habitam o ventre dos navios afundados nos trágicos naufrágios.
Obrigada Sol ...! Por nos presentear com esta cerimonia amarela. Obrigado por deixar meus muros brancos impregnados de sua fosforescência. Entre rajadas e rajadas, os ciclones que atravessam tempestades ou tornados, você pode vir aqui para ir acalmando silenciosamente os nossos olhos.
Porque a sua missão é partir para iluminar outros lugares. Operários, estivadores, pescadores te esperam em outras regiões onde a noite desaparece com sua chegada. E como respondendo a um timbre mágico despertará as cidades, acompanhará os filhos até a escola, colocarás em voo a felicidade dos pássaros, chamará a missa.
À sua chegada, animou-se o andar de seus trabalhadores, cantarão os vendedores nas feiras, as margens dos rios se encherão de lavadeiras e entrará a alegria pelas janelas dos hospitais!
Tchau sol ...! Quando em um instante você se vai por completo e assim morrerá a tarde. A nostalgia se apoderará de mim e a escuridão da Casapueblo.  A escuridão, penetrando com seu apetite insaciável debaixo da minha porta, através das janelas ou qualquer espaço encontrado para infiltrar-se em meu estúdio, abrindo campo para as borboletas noturnas.
Tchau sol...! Eu te amo ... Quando era criança eu queria te alcançar com a minha pipa. Agora que estou velho, me resigno a lhe suada enquanto a tarde boceja por tua boca de vime.
Tchau sol ...! Obrigado por provocar uma lágrima, ao pensar que também iluminou a vida de nossos avós, nossos pais e entes queridos e de todos os que não estão mais juntos a nós, mas que te seguem e de você desfrutam de outra altura.

Sol ... Adeus! Amanhã eu vou te esperar novamente. Casapueblo é a sua casa, pois todos a chamam de Lar do Sol. O sol da minha vida como artista. O sol da minha solidão. É que me sinto um milionário em solas, Eu continuo a esperar que alcance todos os dias o horizonte.”

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