Diário de bordo - Eurotrip - Dia 15 - Perdendo o trem e a vergonha...


Essa parte da viagem merece até mesmo um capítulo à parte.
Acordamos bem cedo, para não correr o risco de perder nosso trem para a Alemanha. Íamos descer de carro e depois devolve-lo, para isso estudamos toda a logística. Eu ficaria no terminal de onde partiríamos e Bárbara e Alvarino iriam de carro, abastece-lo e devolve-lo e depois retornariam até a estação para juntos embarcarmos. Nosso trem era as 8:19h e eles me deixaram na estação exatamente as 7:20h. Estava tudo dentro dos conformes, ia dar tudo certo, mas no fim, não deu.            Nesse meio tempo, fui abordada por dois policiais, que queria saber porque eu tinha tantas malas. Eu me expliquei e eles pediram para que eu ficasse atenta. O tempo foi passando, passando, o horário do trem se aproximando e nada de notícias deles. Quando faltavam uns 10 minutos liguei e Bárbara que me disse: “Vamos perder o trem, depois te explicamos” e desligou. Fiquei apavorada, imaginando que tinham batido o carro, sido roubados, ou qualquer coisa de muito ruim acontecido.
                Depois do nosso trem já ter partido, liguei novamente. Eles estavam bem, o que aconteceu foi que meio que se perderam com GPS e depois não encontravam nenhum posto para abastecer o carro antes de entregarem. Quando eles retornaram à estação, fomos ver o que podíamos fazer e nos mandaram ir tentar pegar o trem em uma terceira estação. Saímos correndo com as malas, pegamos um táxi, em uma verdade corrida pela vida. Ao chegarmos na estação, o trem também já tinha ido – a verdade é que se usarmos a lógica vamos perceber que nunca tivemos chances reais de pegar esse trem. Lá um estagiário disse para Alvarino para pegar o próximo trem, que não teria problema, mas as informações não estavam claras e quando fomos o procurar novamente, ele havia sumido. Fomos até o guichê.
                Lá o cara disse que não havia o que fazer, que como havíamos perdido a única solução seria comprar novas passagens. Fizemos uma cotação e quase caímos duros quando ele disse que sairia pela pechincha de 368 euros. TREZENTOS E SESSENTA E OITO EUROS, JAMAIS! Alvarino disse “POR ESSE VALOR EU FICO AQUI PRA SEMPRE”, Bárbara ficou sem palavras, diante da tragédia que estávamos vivendo. Quem levou a pior mesmo foi minha mala, que resolveu cair um pouco depois dessa notícia e foi chutada e empurrada com fúria. Estávamos lascados.
                Começamos a procurar por novas alternativas. Tinha ônibus também, que levariam cerca de 10 ou 12 horas para fazer o trajeto. Eu estava muito brava, mandei mensagem a Hugo, contando da situação e avisando que iriamos nos atrasar, ao que ele respondeu: “Eu pegaria o próximo trem, com o mesmo ticket. E se o controlador reclamar é só contar uma história triste, se fazer de burro. Eu já fiz isso umas duas vezes e colocou. Se eles te derem uma multa será mais barata do que 300 euros”. Não precisaria muito esforço para nos fazermos de burros.
                Ficamos meio em cima do muro, quanto a tentar isso ou não, mas por fim, ficamos sem opção, já que até mesmo os ônibus baratos e demorados demorariam muitas horas para partir. Então vestimos nossa cara de pau e fomos para plataforma esperar pelo próximo trem, que sairia em cerca de uma hora.
                Todo o meu corpo tremia, não conseguia ficar com minhas mãos paradas, era como se eu fosse ter um treco a qualquer momento.
                Na Europa funciona da seguinte maneira: as portas se abrem, a gente entra no trem e depois dele já estar andando a um certo tempo, o controlador vem e apanha nossas passagens, as conferindo, para ver se esta tudo certo. Então muito provavelmente a gente não seria colocado para fora do trem em movimento, apenas tomaria uma grande multa e seriamos mandados para rua na próxima estação. É CLARO QUE EU ESTAVA DESESPERADA.
                Quando trem parou, entramos, nos acomodamos como se fossemos pessoas normais, com a passagem certas. Nos acomodamos e a tensão começou. Todo mundo que apontava no corredor poderia ser o tal cara que nos colocaria para a rua.
                Tínhamos muitos planos para evitar que ele nos multasse e expulsasse, simularíamos convulsão, demência, começaríamos a chorar, faríamos qualquer coisa para continuar no trem e com dinheiro para passar o resto dos dias que nos restavam no Europa.
                Quando o cobrador chegou, ele pediu a passagem, olhou a data e com um sorriso no rosto nos desejou boa viagem e seguiu seu caminho. Foi como se o sol tivesse voltado a brilhar depois de dias de tormenta. A primeira etapa estava concluída, mas ainda tínhamos outra.

                Nosso trem tinha uma conexão de uma hora em Colônia, a cidade alemã que possui a maior catedral da Europa. Lá almoçamos, o que acreditamos ser uma codorna assada, muito boa. Era como ser um rei da idade média, comendo aquele bicho assado, com as mãos. Tava deliciosa. Comemos para encontrar forças para mais uma vez aguardar o controlador.      Mas antes fiquei me achando, por ter entendido uma conversa entre duas mulheres. Quem diria que as conversas no almoço com minha vó e toda aquela bobeira que a gente fazia resultaria em algo? hahaha     
                Mais tensão antes da chegada dele, mais suor frio, coração acelerado, repassando mentalmente as frases que deveriam ser faladas, caso desse algo errado "I'm sorry I didn't know I couldn't take this train sir. We had a problem and missed the previous one", depois colocar a culpa na mulher do guichê, que supostamente havia nos garantido que poderíamos pegar o próximo, enfim, tava valendo qualquer mentira. Mas quando a mulher veio, novamente foi tão tranquilo quanto da primeira vez. Deu tudo certo.

                Dormimos, acordamos e precisávamos de uma cerveja para comemorar. Eu e Bárbara fomos em busca dela, bebemos e depois não conseguimos mais dormir, por conta da festa que um grupo de amigos vinha fazendo alguns bancos a nossa frente, vinham conversando e rindo muito.
                Tudo estava feliz, quando outro controlador me cutucou. O mundo se abriu a meus pés novamente. MAIS UM??? Mas, mais uma vez deu tudo certo.
                Finalmente chegamos a Bremen, a cidade que em 2015 um dos meus maiores amigos da vida tinha escolhido para cursar seu mestrado e agora eu ia conhecer a seu lado, depois de um abraço de mais de dois anos de saudade.
                Estávamos em Bremen.

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