Visita ao Distrito de Rio Engano


Antiga Igreja do Rio Engano
Conforme constatamos Rio Engano foi outra comunidade diretamente atingida pela construção da
Barragem. O transporte mais uma vez foi generosamente fornecido pela Secretaria Municipal da Educação e desta vez ainda ganhamos um bônus, Isaias, o motorista que viveu no Rio Engano toda sua infância e juventude. Nessa viagem ele foi o nosso guia.
Como de costume realizamos um resgate histórico da comunidade e para isso contamos com a valiosa ajuda de Juliano Wagner, um dos maiores conhecedores sobre a rica história de nosso município.
Guiados por Isaias fomos até o terreno onde ficava a igreja. Ainda é possível encontrar lá as pedras do fundamento da construção. Incrível como todos que

falam da antiga igreja sempre se referem a ela com muito carinho e saudosismo. Nosso guia Isaias voltou no tempo nos contando sobre as festas de igreja que havia frequentado quando criança. Os mortos foram retirados do antigo cemitério e enterrados novamente no novo cemitério. O próprio Isaias ajudou no deslocamento do corpo de seu pai quando houve essa mudança. Ele comenta que nem todos os mortos foram trocados de lugar, pois como esse serviço ficou a cargo dos familiares e muitos dos enterrados já não tinham mais parentes na região, estes, acabaram ficando ali mesmo. Hoje no local resta apenas um túmulo e alguns amontoados de entulhos, formados pelas antigas catacumbas.

Após o passeio mórbido  seguimos para a casa de Dona Cristina. Fomos recepcionados com um largo“É, de um mal eu me livrei. Sabem de qual? O mal de morrer jovem”. Espirituosa foi logo nos convidando para entrar e em casa ela nos concedeu um entrevista que pode ser conferida no link a seguir (entrevista com Dona Cristina)
sorriso em seu rosto. Professora Paula, Giovana – aluna responsável por essa comunidade – e eu, havíamos conhecido nossa anfitriã há algumas semanas, quando estávamos organizando o passeio e a visitamos para perguntar se ela receberia os alunos do Projeto Conhecendo Alfredo Wagner. Quando falamos que ela estava ainda mais forte do que da última vez que a tínhamos visto ela disse:
Já fora da casa que abriga tanta história fomos conhecer a propriedade. Nilton, seu filho nos mostrou como o engenho funciona, e nos convidou para uma nova visita na época em que ele estivesse moendo a cana, para fazer melado e açúcar. Mesmo sem cana Nilton colocou o cavalo para tocar a roda e nos mostrou como acontece o procedimento. A professora Ana Paula e o cavalo nos proporcionaram algumas cenas engraçadas, primeiro o animal a fez correr em círculos e depois demostrou todo seu amor por ela. Rsrsrs
Dona Cristina nos mostrou seus animais, a antiga atafona e suas plantas,
inclusive um pé de catuto, não conhecido por muitos. Para completar a visita ainda fomos convidados a comer algumas bolachas caseiras que ela havia feito especialmente para nossa turma. Uma delícia, que fez muitos relembrarem dos tempos de infância na casa de suas avós.

Despedimos-nos e seguimos até a cachoeira a cerca de 3 km de caminhada. Chegamos até uma belíssima queda d’agua, e às suas margens realizamos nosso piquenique. Conversamos sobre a origem da palavra (pique-nique) e gastamos nosso vocabulário francês, que não era formado por mais de 3 ou 4 frases, rimos bastante, terminamos
nossa refeição e fomos fazer nossa sessão de fotos. Todos ficaram impressionados com a beleza da cachoeira e também pelo relevo do local, mas tínhamos que “levantar acampamento” e ir até o ponto onde reencontraríamos nosso transporte e também nosso guia. Fomos caminhando, margeando o Rio, onde pudemos ver algumas casas que retratam bem o estilo do povo que colonizou a região, muitas em estilo enxaimel e outra que só precisavam ter um moinho de vento ao lado para que nos sentíssemos na Holanda. Foi uma caminhada bastante longa - regada a frutas colhida das árvores próximas da estrada - e observada atentamente por alguns moradores que se deparavam com nossa pequena comitiva, e não entendiam o que estávamos fazendo perdidos por aquelas bandas, a pé.


No caminho passamos por um local bastante conhecido pelos moradores daquela região. Em 1983 ocorreu um grande deslizamento de terra, soterrando casas, animais, máquinas agrícolas e mudando completamente a paisagem do local. Felizmente o acidente não deixou vitimas fatais, mas serviu para alertar sobre a força da natureza e que sempre devemos viver em harmonia com ela.
Quase chegando ao asfalto reencontramos nosso meio de transporte. Estávamos por conta de Isaias e ele nos surpreendeu com o roteiro proposto. Fomos conhecer o Passo da Limeira. O local é quase sempre lembrado por ser a localização da maior escola municipal de Alfredo Wagner, mas por lá encontramos bem mais do que isso. Primeiro paramos em uma pamonharia, um lugar com uma vista maravilhosa, com uma arquitetura rustica e com alguns objetos antigos expostos. Entre esses objetivos havia um dos principais meios de transporte de nosso município no século passado, a aranha, que também é conhecida como
charrete. Ouvimos falar muito nesse meio de transporte sempre que entrevistamos alguém mais idoso. Lá pudemos conhecer a aranha de perto e, além dela, a carroça ou carroção utilizada para todos os tipos de transportes na antiga Barracão.
De lá seguimos até uma pousada que também fica no Passo da Limeira e nos deparamos com um dos cenários mais lindos que já encontramos em nossas viagens de campo pelo município. Fomos guiados por Marco Antonio (filho dos donos da pousada), por uma trilha até a cachoeira da propriedade. A trilha exige muito preparo físico e tira nosso folego não
só pelo esforço, mas também pelas belas paisagens. Com a trilha sonora de John Towner Williams, no melhor estilo Indiana Jones, percorremos a trilha e ao chegamos até a cachoeira, o cenário era digno de algum filme de aventura. Uma imensa queda água, cercada por rochas que no passado serviam de abrigo para os índios. Espetacular. Quando o vento batia, algumas gotículas de água chegavam até nós, refrescando, revigorando e nos deixando completamente extasiados diante da beleza do lugar. Ficamos ali por alguns minutos, mas como sempre dependemos do relógio tivemos que voltar.
A volta foi um capitulo a parte, Marcos Gabriel, Giovana, professora Ana Paula e eu ficamos para trás, e constatamos que tanto o senso de orientação de Giovana ou o Laparcur de mata do Marcos Gabriel não são bons. Rimos muito e no final quase já não tínhamos mais forças para terminar o trajeto.
E assim concluímos nossa viagem “rio abaixo” conhecendo melhor as comunidades do Rio Engano e também do Passo da Limeira. Desfrutamos de suas belezas naturais e de sua história riquíssima. 


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3 Comentários

  1. Carol, não me canso de ler teu relato sobre as localidades de Rio Engano e Passo da Limeira. Cada vez que leio me deparo com lembranças por mim vividas a muitos anos atrás, tal como a remoção do Cemitério para outro lugar, pois alí tinham muitos dos meus familiares sepultados e tbém lembro com saudades de todas atividades, quer religiosas ou esportivas que paticipei naquela tão acolhedora Igrejinha do Rio Engano. Pena, tudo acabou, ficaram as lembranças. As vezes me pergunto : teria sido necessário ter realizado a transferência de todo este Povo que lá viviam ?

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  2. Saudades cresci no Rio engano. Vcs tem mais fotos dessa localidade?

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  3. Boa tarde!
    É muito bom ler sobre uma localidade em que vivenciei momentos felizes das minhas férias escolares. Sou Cleonice Aparecida Muniz de Faveri, filha de Fernando Capistrano Muniz e Odete Hinckel Muniz. Meu avô materno, Luiz Hinckel casado com Benta Amância Martins Hinckel, eram moradores da localidade Rio do Engano antes da década de trinta. Meu avô tinha uma olaria denominada Hinckel. Ajudou na construção da igreja. Na entrada do cemitério havia uma construção marcante com o seu jazigo. O meu avô paterno, Sezefredo Muniz era descendente do coronel Serafim Muniz. Este faleceu cedo por mordida de cobra, deixando minha avô Hercília Cunha Muniz a frente da família. Meu pai Fernando Capistrano Muniz, tinha uma ferraria e uma venda ao lado da igreja, onde fazia sonhos juntamente com minha mãe em dia de festa. Meu pai também ajudou a construir a igreja. Em 1965, época do meu nascimento teve que ir morar em Florianópolis em busca de um clima mais quente por conta de doença no pulmão, vendendo sua venda para seu irmão Alfredo Muniz. Pena que que não encontrei nenhum desses relatos até então. Minha curiosidade da história veio tardia, e meus pais não estão mais aqui para contar. Se a gente não conta, morre! Obrigada pela oportunidade.

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